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Neurociência e composição corporal: Um estudo em pilotos de helicópteros de combate

A falta de atividade física pode resultar em sobrepeso ou obesidade, além de representar risco aumentado para diversas outras doenças. A literatura mostra que, nas últimas décadas, vários estudos, conduzidos em indivíduos saudáveis sugeriram que a adiposidade pode produzir efeitos negativos independentes no cérebro, acometendo estruturas regionais do cérebro e afetando a conectividade funcional, a qual está associada à função cognitiva. Por conseguinte, apresenta-se como fator de risco aumentado para demência. Neste post apresentamos em destaque um estudo a respeito da relação de adiposidade com atividade cortical conduzido em pilotos de helicóptero de combate (continua).

Foto: Defensa.com


O estudo de David Cárdenas e colegas[1], conduzido na Espanha e intitulado “Better brain connectivity is associated with higher total fat mass and lower visceral adipose tissue in military pilots” [Melhor conectividade do cérebro está associada a maior massa gorda total e menor tecido adiposo visceral em pilotos militares] teve por objetivo examinar a associação de composição corporal – massa gorda total (MGT) e tecido adiposo visceral (TAV) com a integridade da substância branca de estruturas subcorticais em pilotos de helicóptero militares. Participaram do estudo 23 pilotos de helicópteros militares, em amostragem por conveniência, e contavam com média de idade de 36,79 (±8,00) e média de Índice de Massa Corporal (IMC) de 25,48 ( ±2,49).

A substância branca do sistema nervoso do sistema nervoso central, do encéfalo e da medula é constituída por fibras nervosas de espessura variável[2] que possuem bainha de mielina[3]: os axônios[2] A substância branca compreende cerca de metade do volume cerebral. Formada por numerosos feixes que apresentam direções diversas, que interconectam diversas áreas de substância cinzenta – composta dos corpos celulares nervosos: os neurônios. Assim, a substância branca é responsável pela comunicação dos impulsos nervosos entre neurônios[2].

Na atualidade, existem técnicas de neuroimagem modernas, que permitem aprofundar o conhecimento no assunto, utilizando até mesmo visualização in vivo do cérebro e de seus componentes, sendo possível o mapeamento da substância branca por meio de imagens obtidas por tensor de difusão – técnica que permite observá-la com mais detalhe, inclusive de modo quantitativo[2]. A mielina3 age como um isolante, aumentando a velocidade de transmissão de todos sinais nervosos[4]. As membranas dos axônios e bainhas de mielina constituem barreiras para o movimento das moléculas de água. Uma das medidas realizadas pelo tensor de difusão é a difusão anisotrópica que estima o grau de direcionalidade de difusão aquosa no cérebro.

No estudo de David Cárdenas e colegas[1], A variável desfecho foi a conectividade cerebral e as variáveis explicativas foram MGT e TAV. Conectividade cerebral foi avaliada utilizando-se a técnica de imagem por tensores de difusão, com a medida de anisotropia fracional. MGT e TAV foram avaliadas por meio de Raios-X de Dupla Energia (DXA), que é o padrão-ouro quando se trata de avaliação da composição corporal.

Fonte: David Cárdenas e colegas[1]


Os resultados mostraram que maior MGT e menor TAV estavam associadas com maior anisotropia fracionada (grau de direcionalidade de difusão aquosa) da substância branca. Tais achados indicam que MGT e TAV são fatores críticos subjacentes à conectividade cerebral em pilotos de helicópteros de combate. Os autores sugerem que a presença de gordura aumenta a conectividade do cérebro enquanto não há excesso, especificamente no TAV.


Comentários editoriais

Considerando que o estudo foi conduzido em pilotos, os quais apresentavam IMC classificado c